17/12/2008

O Natal dos anos 50 e 60



Não havia noite tão desejada em todo o ano como a noite de Natal, em que as famílias muito numerosas se juntavam à roda da lareira, sentados nos bancos de madeira ou em cadeiras de palha, esperando pelos familiares, alguns já emigrados na França e Alemanha, outros por paragens mais próximas.

Não faltavam à mesa as filhoses, o arroz doce, o bacalhau e as couves etc. A carne de porco (havia quem fizesse a matança na véspera) ou a galinha ficavam para o dia de Natal. Tudo feito nas panelas de ferro, que dava um sabor especial à ceia. Enquanto a ceia era preparada, os mais jovens preparavam-se para o "quer que cante ou que reze".

Percorria-se a aldeia de porta a porta dos mais abastados, com um cestinho ou saco. Era uma festa para todos. Os mais velhos ensinavam os versos que se deviam cantar para se receberem: castanhas, nozes, maçãs, enchidos, tostões (poucos).
Lá iamos cantarolando os sons graves das quadras, com os tamancos que já atordoavam os vizinhos. E depois:

Estas casas são muito altas
Forradinhas de alecrim
Viva quem nelas habita
Que é o Senhor Joaquim

Levante-se lá senhora
Desse banco de cortiça
Venha-nos dar a janeira
Ou morcela ou chouriça

Levante-se lá senhora
Desse banquinho de prata
Venha-nos dar a janeira
Que está um frio que mata

Ou o presunto é grosso
Ou a faca não quer cortar
Esta barba de farelo
Não tem nada que nos dar

...E havia mais quadras!

Quando as pessoas estavam mal humoradas e não gostavam da paródia, continuava a algazarra...belos tempos!...No final distribuiam-se os géneros pelos que mais precisavam (menos as nozes...).
Depois da euforia pensava-se na ceia melhorada da consoada. Não havia consoada sem o chefe de família rezar por todos os presentes e ausentes, vivos e defuntos.Os mais novos pediam a benção e beijavam a mão aos pais.

Continuava o convívio até que os sinos da Igreja repicassem para anunciar que era a hora de se acender a fogueira do Natal, feita como é hoje no largo da Igreja Matriz. Na altura ainda se "desviavam" os troncos de carvalhos, pinhos, castanheiros, giestas, sem que alguns donos se apercebessem.

Toda a gente se aquecia com aquelas labaredas com metros de altura e muitas chispas... era um espectáculo muito curioso, pois para além do braseiro, havia o convívio de toda a gente da aldeia, onde não faltavam os tremoços, figos secos, o vinho e às vezes as filhoses que os mordomos do Menino Jesus e populares ofereciam. Era noite de partilha!... era Natal... a rapaziada, essa, a noite era deles...Não havia televisão, nem Net, nem Discotecas...

O frio gélido não era impedimento para nada... pois já estavam bem quentinhos.
Para os mais jovens era altura de colocar o tamanquinho na chaminé!...
Mas o Deus Menino (na altura o Pai Natal andava à procura das Renas)estava sempre em crise...Os presentes eram muito simples. Às perguntas sobre a razão de os presentes serem quase sempre os mesmos, vinha a resposta de que havia sempre quem não tinha nada no tamanquinho. E nós encolhíamos os ombros e pensávamos logo no ano seguinte, no grande significado do NATAL, que deveria ser para todos e todos os dias.

Dia de Natal... fato domingueiro!...os sinos voltavam a repicar para convidar a assistir à missa, visitar o presépio feito de musgo e com muitas figurinhas.A fogueira estava acesa, mesmo que chovesse ainda havia um grande braseiro, que continuava a aquecer quem com toda a sua devoção ia assistir à celebração da missa. A meio da celebração beijava-se o Deus Menino depositando na bandeja dos mordomos a oferta.Tradição que se mantém. E como no Inverno os dias são mais curtos, rápido se passava o dia. No dia seguinte já se pensava no próximo dia de Natal.E velozmente se passaram tantos Natais, cada vez mais diferentes!...

BOAS FESTAS

Mª. Amélia

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